Algumas vezes tive a oportunidade de realizar, com diferentes grupos de líderes, uma atividade, aparentemente despretensiosa, que exigia que um fosse, por alguns minutos, o espelho do outro. E, nesse momento, via-se literalmente de tudo. Havia aqueles que pensavam: “já que o outro vai fazer tudo o que eu fizer, vou me aproveitar disso”. Havia outros que diziam: “não se preocupe, vou ser cuidadoso”, ou “prepare-se, vou dificultar a sua vida!”. Outros ainda, que expressavam: “é fácil me refletir, você vai ver”. E, assim, era possível despertar o quanto cada um colocava de si mesmo na atividade, e as diferentes formas que estabeleciam na relação com o outro.
Quando estamos falando de líderes, então, esse outro se torna outros (no plural), e o alcance, assim como a responsabilidade pelo efeito causado em cada um, cresce exponencialmente. Verdadeiros líderes têm o potencial de arrastar multidões consigo, não por obrigação, mas por vontade própria. Entretanto, vemos com frequência profissionais que assumem o papel de gestão sem desenvolver o papel de líder. E é assim que crescem as histórias de líderes que não deram certo, profissionais que eram excelentes nas suas áreas e que, ao serem promovidos, se transformaram em um verdadeiro pesadelo.
Recentemente, no trabalho com desenvolvimento de liderança através do Coaching, voltei a lembrar-me daquela associação que os líderes fizeram, no treinamento, acerca do seu comportamento diante do “espelho”. Como gostariam que seus colaboradores agissem e se relacionassem no ambiente de trabalho? Será que davam realmente o exemplo? Que tipo de exemplo vinham sendo para eles? De que forma estariam proporcionando o ambiente adequado ao seu desenvolvimento e alcance dos resultados desejados?
Essas questões nos levam a pensar em situações opostas. De um lado, um ambiente hostil, pouco amistoso, restrito a comunicações objetivas, voltado para pressão por resultados, e relacionamentos distanciados. De outro, um ambiente descontraído e favorável ao estabelecimento de relações positivas, voltado para a partilha de ideias e opiniões, flexibilidade, adaptabilidade e desenvolvimento das pessoas. Em qual desses dois ambientes, a satisfação, o desempenho e, consequentemente, a produtividade, deverão ser maiores?
Não são necessárias muitas justificativas para afirmar que no segundo. Muitos estudos comprovam isso. Mas, ainda assim, muitas equipes continuam a ser geridas por líderes, que prefiro aqui chamar de “chefes”, que deixam em segundo plano o valor PESSOAS no seu estilo de gestão. Sequer se dão conta das emoções e sentimentos dos outros, não dão a devida importância ao feedback (adequado, vale ressaltar), nem demonstram interesse genuíno pelo outro durante a comunicação. Daqueles que, enquanto alguém que passou horas se preparando faz um “discurso” sobre o trabalho realizado, permanecem no computador, no smartphone, ou fazendo qualquer outra coisa, menos estarem totalmente presentes. São, em geral, profissionais com um baixo nível de empatia e habilidades sociais, afetando a sua capacidade de comunicação e de relacionar-se de maneira eficaz.
Mas a boa notícia é que tais aspectos podem ser desenvolvidos. Elementos fundamentais à boa comunicação, por exemplo, podem ser trabalhados, vivenciados, observados, analisados, discutidos e espontaneamente modificados. Reformular, confirmar, olhar nos olhos, escutar atentamente (livre de distrações), espelhar a postura, expressões e gestos do interlocutor, são apenas algumas das possibilidades nesse caso. Certamente, elas irão também influenciar na capacidade de melhorar o relacionamento com os outros. Afinal, se a tarefa principal de um líder é envolver as outras pessoas em prol de um objetivo comum a ser alcançado, sem habilidade social, ela se torna uma missão impossível.
Felizmente, muitas empresas e muitos líderes já reconhecem a importância de se identificarem e se trabalharem essas questões nos seus potenciais e atuais gestores, a fim de promover um ambiente mais favorável ao desenvolvimento e bom desempenho das pessoas, e ao alcance dos resultados. Se as equipes são reflexo dos seus líderes, nada melhor do que investir no seu preparo para conseguir o melhor de cada uma delas.
Aos líderes e aspirantes a esse papel, deixo uma reflexão: que tipo de espelho têm sido para as suas equipes e que tipo de reflexo têm recebido de volta por parte delas?
Ao citar este artigo:
FRANÇA, C. B. Título do artigo. Salvador, Data de publicação do artigo. Disponível em: link do artigo. Acesso em: data de acesso.