Nos noticiários e nas rodas de conversa, o que mais tem se observado são os efeitos da crise econômica vivenciada pelo país: diminuição do crescimento, aumento da inflação, redução de quadros nas empresas e o consequente aumento do desemprego. Mas é em tempos de crise que mais se sente a necessidade de inovar e buscar soluções alternativas para, não só sobreviver, como ultrapassar as dificuldades, aprender com elas, e adquirir mais vantagem competitiva para a retomada do mercado.
A questão que se coloca é, diante de um momento de crise e incertezas, qual o papel da área de gestão de pessoas nesse cenário? Se, por um lado, vemos um clima de preocupação e insegurança, com diversas empresas procurando formas de reduzir custos (inclusive com cortes de funcionários), como podemos, por outro lado, manter colaboradores genuinamente comprometidos e motivados a alcançar os objetivos traçados e levar a organização a melhores resultados?
A verdade é que, neste momento, tanto profissionais quanto empresas têm oportunidade de se destacarem. É diante das dificuldades e dos obstáculos que mais se demonstram as competências necessárias ao desenvolvimento e ao crescimento.
Um exemplo disso é o grande aumento do número de brasileiros que foram impulsionados a abrirem o próprio negócio, diante das dificuldades do mercado de trabalho, colocando o país na liderança isolada em empreendedorismo, com 34,5% de empreendedores, responsáveis por 52% da geração de empregos formais, segundo pesquisa realizada pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade. O fator principal para essa busca tem sido muito mais a visualização de uma oportunidade de negócio do que a falta de trabalho em si. Ou seja, diante da crise, as pessoas estão buscando alternativas que lhes deem satisfação, realização e condições de colocar em prática os valores em que acreditam. Mas, ainda assim, precisam de preparo, conhecimento, investimento. Até o segundo ano, cerca de 70% dessas micro e pequenas empresas conseguem sobreviver, sendo que após cinco anos cerca de metade mantém suas atividades. Segundo orientações do próprio Sebrae, para o empreendedor ir mais longe, ele precisa ter liderança, ser inovador, conhecer o mercado e os concorrentes, desenvolver uma boa rede de relacionamentos, investir em comunicação interna e externa, reconhecer e capacitar seus funcionários.
Valorizar a honestidade, a transparência e a capacidade de adaptação, comunicar efetivamente o que está acontecendo, envolver os colaboradores na busca conjunta de soluções, mostrar alternativas, estabelecer metas e objetivos claros a serem alcançados, oferecer desafios motivadores, adotar uma política de maior flexibilidade e humanização, estimular o comprometimento e a inovação são algumas das possibilidades para promover um clima de maior confiança e comprometimento dentro da empresa.
O papel da liderança nesse processo é fundamental. Uma liderança positiva, que promove a abertura e a comunicação livres, estimula as ideias dos seus colaboradores, a aprendizagem e o desenvolvimento de competências essenciais ao alcance dos resultados, procurando alinhar os objetivos do profissional aos objetivos da organização, criará um ambiente também mais positivo e saudável, em que o conhecimento circula e se multiplica, e as pessoas verdadeiramente “vestem a camisa”. Ao profissional, cabe também investir no seu próprio desenvolvimento e na aquisição de novos conhecimentos, levar ideias alternativas para a empresa (inclusive para redução de custos), e buscar fazer-se, se não indispensável, fundamental ao desenvolvimento da organização. Mais uma vez, é nesses momentos que se destacam talentos que antes podiam ser pouco percebidos.
É importante ter em mente que não adianta somente esperar a “tormenta” passar. A dificuldade pressupõe movimento, por isso mais vale procurar um raio de sol, em meio às nuvens carregadas. Durante um período de desaquecimento do mercado, por exemplo, esse movimento pode também ser voltado para dentro. Projetos organizacionais internos podem ser desengavetados, o papel das equipes e das lideranças podem ser fortalecidos, os objetivos estratégicos podem ser revistos e/ou reafirmados, projetos pessoais dos colaboradores podem ser individualmente retomados. Enfim, o importante é aproveitar esse momento para promover aprendizado, fortalecimento e preparo para lidar com as novas demandas que virão ao longo do processo de retomada do crescimento, sempre alerta para o fato de que somente através das pessoas é que se é capaz de enfrentar e acompanhar essas mudanças.
Se pudéssemos pensar no processo de desenvolvimento de pessoas que ocorre dentro da organização, envolvendo etapas e fatores que o influenciam, de maneira resumida, uma possibilidade seria a que se segue abaixo. Lembrando que todo e qualquer processo organizacional deve estar alinhado estrategicamente com os objetivos estabelecidos em seu planejamento inicial (que deve nortear as ações de toda a empresa, mas também permitir certos ajustes ao longo do caminho), entende-se que este é o “princípio” e o “fim” de todas as coisas. Ou seja, assim como para traçar um plano de ação é preciso ter como base os objetivos, para acompanhar e mensurar os resultados, é preciso retomá-los continuamente. Assim, torna-se possível avaliar a eficácia do planejamento e suas alternativas, bem como elaborar o planejamento seguinte.
A partir daí, é fundamental criar envolvimento e participação de todos, através de uma comunicação aberta e eficaz; avaliar as reais necessidades de desenvolvimento dos colaboradores, desenvolvendo um plano de ações de treinamento e desenvolvimento alinhado ao planejamento estratégico e ao contexto ambiental em que a organização se encontra; realizar ações específicas de desenvolvimento (técnicas e/ou comportamentais); promover a construção do conhecimento, habilidades e atitudes, possibilitando o aprimoramento de competências. Dessa forma, através da gestão das pessoas, do conhecimento e dos resultados, a organização gera aprendizagem e, consequentemente, inovação. Passa a contar com profissionais preparados e resilientes para lidarem com as dificuldades e levá-la a patamares mais elevados mesmo diante da crise. Um aspecto fundamental ao longo de todo o processo é oferecer estímulos e desafios que possibilitem manter a automotivação dos colaboradores, orientando, acompanhando e avaliando os resultados alcançados para que sejam ainda mais eficazes dali por diante.
E é exatamente aí que estaria a resposta à questão posta no início. O papel da gestão de pessoas em momentos de dificuldade mostra-se ainda mais relevante para estimular um ambiente de confiança, transparência, criatividade, comprometimento e inovação entre os colaboradores, trabalhando o espírito de equipe, cooperação e fortalecendo as lideranças. Promovendo o desenvolvimento pessoal e organizacional, torna-se possível, portanto, não só aumentar o desempenho e melhorar os resultados globais, como também alcançar um diferencial único através do que se tem de mais exclusivo dentro de uma organização: as suas Pessoas.
Ao citar este artigo:
FRANÇA, C. B. Título do artigo. Salvador, Data de publicação do artigo. Disponível em: link do artigo. Acesso em: data de acesso.