Por um tempo, quando se falava em inteligência emocional, houve quem dissesse que se tratava de mais uma “moda” no mundo empresarial. Algum tempo e algumas pesquisas depois, percebe-se que este conceito desperta a atenção para aspectos indispensáveis a pessoas e profissionais que pretendem ter sucesso nas suas relações em geral, não somente as de trabalho.
Especificamente no que se refere à inteligência emocional no trabalho, a associação com o desempenho eficaz é crescente, sobretudo à medida em que as posições dentro da empresa se elevam. Ou seja, quanto mais alto o cargo, mais importante se tornam as competências relacionadas à inteligência emocional. E, quanto mais fortes essas competências, mais elevado se torna o desempenho (pesquisas realizadas por David McClelland na década de 90 mostraram que altos executivos com elevado quociente de inteligência emocional conseguem aumentar em até 20% os resultados anuais dos seus setores).
Mas como saber se temos essas competências? Como desenvolvê-las? Como realmente mantê-las?
Primeiramente, é importante compreender quais são os componentes da inteligência emocional. Essa definição varia de um modelo e autor para outro, porém, a título de exemplo, tomemos o proposto por David Goleman, que estabelece esses componentes entre: autoconsciência ou autoconhecimento, autogestão ou autocontrole, empatia e habilidade social. A identificação dos pontos de desenvolvimento e um trabalho pessoal em prol dos aspectos específicos identificados são os próximos passos desse processo.
Quando falamos em autoconsciência ou autoconhecimento, estamos nos referindo à compreensão e reconhecimento acerca das próprias emoções, sentimentos, forças, fraquezas, necessidades e impulsos, assim como a forma que eles afetam a si mesmo e aos outros. É agir de maneira consciente, assertiva e realista a respeito de si mesmo, autoavaliar-se sem ser crítico ou severo demais, e sem negligenciar aspectos fundamentais de desenvolvimento. Reconhecem-se os erros e os pontos de melhoria, bem como valorizam-se as críticas construtivas. É compreender seus próprios valores e metas, saber para onde está indo e por quê. Agindo dessa forma em relação a si próprio, um líder também tenderá a agir da mesma forma e se tornar exemplo em relação aos seus colaboradores e equipes.
Uma vez se conhecendo bem, às próprias emoções, impulsos e sentimentos, torna-se possível administrar os seus efeitos sobre si e sobre os outros. A capacidade de autocontrole envolve uma inclinação à reflexão e ponderação, em detrimento de atitudes impulsivas e intempestivas, de adaptação à ambiguidade e à mudança, e de integridade, criando um ambiente de confiança e comprometimento elevados. Como uma mobilização positiva das emoções em direção às metas, tem-se a automotivação, que reflete um desejo profundo de realização, de enfrentar os desafios, de elevar o desempenho e obter melhores resultados, mantendo o otimismo e a paixão pelo trabalho.
Outro componente da inteligência emocional é a empatia, que envolve o reconhecimento genuíno dos sentimentos de dos pontos de vista do outro, a capacidade de escuta ativa, compreensão e comunicar-se de maneira eficaz. Certamente, um líder com essas características terá maior facilidade em promover o envolvimento das pessoas e fazê-las se sentirem importantes em um processo decisório.
A habilidade social, por sua vez, envolve a capacidade de uma pessoa de se relacionar com outras, e se constitui como consequência da capacidade de conhecer e gerir as próprias emoções e de considerar os sentimentos dos outros. Essa capacidade de desenvolver vínculos interpessoais, mostra-se ainda mais importante nos dias de hoje, em que as relações estão cada vez mais fluidas e virtuais. Sabendo que o trabalho de um líder envolve mobilizar pessoas a buscarem um objetivo em comum, a habilidade social é crucial não só para facilitar esse processo como para manter relações saudáveis e produtivas em qualquer que seja o âmbito da vida.
Tendo em vista essas dimensões, e o próprio conceito de inteligência emocional, torna-se clara a importância de um líder desenvolvê-las. Algumas pessoas, ao longo da vida, experienciam e fortalecem essas capacidades, que são levadas para todos as áreas. Por outro lado, algumas outras sentem a necessidade de ampliar a consciência e a autopercepção, o que as levam a buscar ajuda externa nesse processo. Para desenvolver autoconsciência, autocontrole, empatia e habilidade social, seja através de cursos, de terapias, ou de um trabalho de coaching, por exemplo, alguns aspectos a serem considerados são as capacidades de: de identificar emoções, sentimentos, gatilhos de estresse ou alterações de humor; identificar forças e limitações; se adaptar, lidar com as mudanças e com emoções negativas; perceber e lidar com os sentimentos de outras pessoas, definir e esclarecer seus principais objetivos; persuasão, negociação e gestão de conflitos; trabalho em equipe, comunicação e relacionamento interpessoal.
O mais importante disso tudo é ter em mente que essas competências podem ser desenvolvidas e aperfeiçoadas. Mais ainda, elas têm um efeito multiplicador, ou seja, podem “contagiar” as pessoas à sua volta. Por isso mesmo, a importância de considerá-las com cuidado. Afinal, ser capaz de gerir as próprias emoções, escutar, compreender, construir uma rede de apoio, conseguir consenso e conduzir pessoas na direção desejada são habilidades fundamentais a um líder que busca não só resultados e alto desempenho, como também crescer e proporcionar crescimento.
Sugestão de leitura:
GOLEMAN, D. Liderança: a inteligência emocional na formação do líder de sucesso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015.
Ao citar este artigo:
FRANÇA, C. B. Título do artigo. Salvador, Data de publicação do artigo. Disponível em: link do artigo. Acesso em: data de acesso.