Pensar em desenvolvimento de carreira nos dias de hoje implica invariavelmente no desenvolvimento de uma postura proativa e transformadora por parte do profissional. A chamada carreira proteana, ou auto-gerida, envolve planejamento, foco e também capacidade de se adaptar às necessidades e mudanças do contexto. O profissional passa a buscar seus próprios caminhos, assumindo a própria responsabilidade pela evolução da sua carreira e pelos rumos que ela toma, não mais deixando a cargo dos interesses da empresa em que está inserido, muito menos aguardando que ela o promova ou abra os caminhos para onde ele quer chegar. Esse profissional proteano passa a agir em prol da própria satisfação e felicidade, em busca da sua realização profissional, em equilíbrio com seus objetivos e metas pessoais.
No entanto, sabemos que o ser humano é um ser social por natureza, que precisa de interação e convivência para se construir e desenvolver como tal. E não é diferente em relação à própria carreira. Não é porque ela passa ser gerida por ele mesmo que ele precisa fazer esse caminho sozinho. Pelo contrário, cada vez mais se observa que conhecer as pessoas certas, por mais competente que você seja, pode ser o maior diferencial na sua carreira.
Por muito tempo, acreditava-se que conseguir um trabalho por indicação de alguém colocava em questionamento a capacidade profissional do candidato. O famoso “QI” (“quem indica”) sempre teve uma conotação negativa na maioria dos contextos. Entretanto, considerando a realidade da maioria das empresas atualmente, elas não se dão ao luxo de contratar uma pessoa que não corresponda às necessidades do cargo só por conhecer alguém lá dentro (mesmo que o façam, dificilmente essa pessoa se sustenta por muito tempo na função, se não se adaptar bem e mostrar resultados). Assim, essa percepção foi caindo por terra. A verdade é que as pessoas indicam, recomendam e fazem negócios com pessoas que conhecem e têm afinidades.
É o que chamamos de networking. Traduzindo literalmente do inglês, seria “trabalhando em rede”, mas de maneira simples poderia ser definido como a possibilidade de se colocar (ou recolocar) profissionalmente e fazer negócios por meio da rede de amigos/contatos. Apesar da maioria das pessoas reconhecer a importância de se fazer networking, elas reconhecem que não o fazem de maneira eficaz. Entretanto, diversas pesquisas em todo o mundo apontam índices cada vez mais altos de que a maioria das pessoas consegue recolocação profissional através da indicação de um amigo ou conhecido. Por experiência própria, já recebi alguns clientes e já fui convidada para vários trabalhos a partir da indicação de amigos, colegas, parceiros e conhecidos que tiveram contato de alguma forma com meu trabalho. Provavelmente você também deve ter alguma experiência que comprove a importância de se manter conectado às pessoas.
Muitas pessoas alegam ter dificuldades em termos de relacionamento interpessoal, ou mesmo não gostarem de fazer isso, por serem muito tímidas, por “não terem tempo”, ou porque acreditam hoje ser suficiente o contato virtual. A verdade é que tudo isso não passam de desculpas quando você realmente se dá conta da importância de manter um networking ativo para a sua empregabilidade e para o seu sucesso profissional, seja você de que área for. Já cheguei a escutar, irônica e caricaturalmente, de um profissional da área de exatas, a seguinte frase: “prefiro pedir tudo pela internet ou pelos aplicativos de celular, porque não preciso falar com ninguém; quanto menos contato com o ser humano melhor”. Meses depois, esse mesmo profissional diz para mim “preciso descobrir uma forma de acabar com essa minha ‘bichogrilisse’… encontrei um ‘ídolo’ da minha área e não consegui nem conversar com ele, quanto mais tirar uma foto”. Por mais que se diga, ou brinque (como foi o caso dele no primeiro momento), que não se precisa estar em contato com as pessoas, em algum momento você vai entender, e por experiência própria, que elas são fundamentais e poderão abrir muitas portas para você mais à frente.
O importante é entender que não é uma questão de quantas pessoas você conhece, mas de quem (e como) você conhece. Imagine a diferença de participar de um processo seletivo com vários candidatos muito bons, competentes e experientes, sem conhecer ninguém, e tendo ao menos um conhecido respeitado que tenha dado boas referências sobre o seu perfil e o seu trabalho. O mesmo se aplica a fornecedores e clientes. Provavelmente você confiará muito mais em comprar algo ou adquirir um serviço de alguém ou alguma empresa que tenha sido indicada por um amigo ou contato seu. Assim como, se você fornece produtos ou serviços, será muito mais procurado pela indicação de outras pessoas do que propriamente por divulgação em massa por aí.
O primeiro passo nesse processo é investir em si mesmo e no próprio autoconhecimento. Descubra quais são os seus pontos fortes para desenvolvê-los ainda mais e usá-los a seu favor. Descubra quais as suas dificuldades e invista nelas também. Antes de mais, tenha em mente que networking é uma relação de troca. Muita gente esquece disso e só lembra dos outros na hora em que precisa, ou para pedir favores. Tenha sempre algo para oferecer em troca que possa ajudar aquela pessoa, peça aconselhamentos e orientações ao invés de favores.
Avalie os grupos ao seu redor, os contextos em que está inserido (família, esporte, amigos pessoais, colegas de escola, faculdade e trabalho, cursos de formação, etc.), e descubra suas “superconexões”, aquelas pessoas que conhecem outras pessoas que podem ser importantes para você (mas lembre-se: mantenha sem seus contatos pessoas que possam interessar aos seus amigos conhecerem também e faça essa ponte quando precisarem). Se tiver muita dificuldade em se conectar, comece se reconectando, resgatando pessoas com quem não fala há algum tempo. Mas seja autêntico, crie vínculos, relembre memórias em comum, demonstre interesse genuíno pela outra pessoa, ou ela vai sentir que você está sendo “forçado” e “artificial”. Cuide da sua imagem pessoal, da sua postura, do seu comportamento (as pessoas estão observando as outras o tempo inteiro e certamente farão uma imagem de você). Participe de cursos e eventos tanto da sua área quanto de outras áreas (inclusive onde você saiba que encontrará profissionais da área de RH) e procure ampliar seus relacionamentos, busque conhecer pessoas novas. Estar informado sobre assuntos diversos também ajuda nessas horas. O importante é começar. Fazer networking é como praticar exercício físico: exige treino e prática para que se torne hábito e que se possam ver os resultados. As redes sociais têm feito um papel importante na reaproximação das pessoas, e realmente facilitam os contatos. É preciso apenas saber utilizá-las de maneira adequada e sobretudo ética. Voltaremos a falar delas em outro momento.
No entanto, sabemos que mais do que criar relações, precisamos saber cultivá-las e mantê-las. Portanto, não vale ficar preso ao mundo virtual e acreditar que é suficiente estar nas redes sociais e no whatsapp sempre. Mantenha uma agenda de encontros informais tanto com amigos pessoais quanto com colegas de trabalho. Um almoço, um café não faz mal a ninguém de vez em quando (e se a questão é economizar, sugiro separar uma parte das economias para investimentos nesses eventos sociais e nos cursos que você poderá escolher para fazer). Esteja disponível para ajudar, ofereça apoio naquilo que você domina e vê que o outro tem dificuldade, faça além do que se espera mesmo que não te peçam. Com atitudes positivas, você cria vínculos positivos. Seja acolhedor com pessoas novas, forneça informações e orientações necessárias para elas se ambientarem, mostre o espaço, apresente as pessoas. Foque nas pessoas, demonstre interesse por elas, lembre para ser lembrado. Agradeça todos os dias a cada um que contribuiu ou ajudou você de alguma forma (mesmo que não tenha se dado conta), crie o hábito de contatar algumas pessoas por semana e procurar saber como elas estão e como estão seus projetos.
Tudo isso para dizer que não se vive sem contatos. Conheço profissionais de diversas áreas com formação de referência, em instituições renomadas em nível nacional e internacional, super competentes, mas que para se recolocarem após voltarem para suas cidades, precisaram primeiro retomar o contato com as pessoas (antigos colegas de faculdade e trabalho, chefes, professores). Somente após um tempo de investimento e paciência, as oportunidades começaram a surgir. As pessoas passaram a lembrar delas, a indicá-las e a mandar mensagem quando surgia algo dentro dos seus objetivos. É preferível ter alguém conhecido e em que se confia, ou que um amigo indicou, do que começar com alguém completamente desconhecido, do qual não se tem referência alguma. O poder do networking é inestimável quando se sabe usufruir dele.
E você, já parou para pensar nisso? Como tem cuidado dos seus relacionamentos? Como tem usufruído do poder o networking na sua vida?
Ao citar este artigo:
FRANÇA, C. B. Título do artigo. Salvador, Data de publicação do artigo. Disponível em: link do artigo. Acesso em: data de acesso.