Em tempos de velocidade acelerada, mudanças constantes, crise socioeconômica e política, pressão por resultados e cobrança pelo sucesso, os otimistas têm se tornado cada vez mais raros. Quando me refiro aos otimistas, quero dizer aquelas pessoas positivas, que mantém a esperança no melhor e acreditam verdadeiramente que as coisas vão dar certo. Por isso, são capazes de manter o bom humor diante das adversidades, identificar e controlar as fontes de estresse, e contagiar um certo número de pessoas à sua volta.
Pensei em escrever sobre os limites do alcance dessas pessoas. Mas, para manter o tom positivo do artigo, falar dos otimistas será muito mais eficaz. Conheço algumas pessoas assim. Ficam tristes, frustradas, cansadas e decepcionadas como todas as outras, mas lidam com isso de uma maneira simplesmente leve, realista e confiante. Não se deixam abater facilmente por fatores externos que possam desencadear estresse e parecem ter um nível de controle bem maior sobre os fatores internos.
Facilmente reconheceríamos alguém com essas características no trânsito, por exemplo. Este, aliás, tem sido um dos grandes fatores estressores ultimamente, seja pela lentidão, pelo congestionamento, seja pela falta de cortesia e respeito entre motoristas dos diversos veículos, ciclistas e pedestres. De um lado, podemos visualizar aqueles que ao serem cortados no trânsito, irão esbravejar, buzinar, e passar o resto do dia de mau humor. Por outro, aqueles mais raros, que poderão pensar diversas alternativas para simplesmente respirarem e manterem o seu nível de humor inalterado: “coitado, deve estar passando por alguma emergência”, ou “deve ter pouco tempo de habilitação, não sabe dirigir direito ainda”, ou “deve estar distraído e, se duvidar, nem me viu”, ou mesmo “este é mal-educado no trânsito, espero que não cause nenhum acidente”, ou “não posso seguir o exemplo dele”.
Assim como o trânsito, podemos exercitar com inúmeras situações. Experimente numa discussão com um colega, com seus pais, ou irmãos, em casa, no trabalho, na escola, na faculdade. Tente identificar quais foram os agentes estressores e exatamente o que você sentiu no momento (física e emocionalmente), suas reações e as reações dos outros. Registre por alguns dias ou semanas, e tente verificar se existe uma repetição. Essa é a hora que, mais consciente, você tem o poder de exercitar a mudança. Experimente agora fazer diferente, introduzir qualquer elemento que o ajude a diminuir o estresse e reagir de outra forma. Seja qual for o contexto e a intensidade, temos sempre a escolha de permitir que eventos corriqueiros estraguem o nosso dia ou não. E mesmo que sejam eventos incomuns e questões muito sérias, tenho certeza de que conhecem alguém que consegue lidar de maneira surpreendente, exercitar o aprendizado, acreditar no melhor, e “dar a volta por cima” como ninguém esperava. E é espontâneo, natural, simples, não necessariamente fácil.
Quando estamos de “mau humor”, tendemos a ver tudo por uma lente mais negativa, assim como sendo positivos e otimistas, a nossa lente também fica tendenciosa nesse sentido. Basta observarmos como poucas coisas nos aborrecem quando estamos em um momento genuinamente feliz. E por que essa diferença? Qual a dificuldade em manter essa lente mais “colorida”? Para quem tem mais dificuldade em trocar as lentes, há algumas alternativas. Muitos precisam mesmo procurar ajuda terapêutica para descobrirem a causa e aprenderem a lidar com o estresse, a ansiedade, e seus efeitos físicos e psicológicos, bem como as alterações de humor decorrentes. O importante é saber identificar e reconhecer essa necessidade. Em paralelo, algumas atividades podem ajudar bastante no processo, como por exemplo: praticar esportes e atividades físicas prazerosas, praticar meditação e atividades que exijam foco e concentração, descobrir talentos ou investir em trabalhos artísticos que tragam satisfação e relaxamento, manter hábitos saudáveis de alimentação e sono, desvincular-se mais do mundo virtual e passar a conviver em grupos de amigos e familiares, participar de grupos de voluntários em causas sociais e/ou ambientais relevantes, promover momentos de interação e descontração ao ar livre ou em ambientes agradáveis, fazer leituras e cursos relacionados ao tema para inspirar-se à mudança. Enfim, dentre as diversas alternativas, uma ou mais podem exercer impacto positivo em sua vida. Porém, nenhuma exclui a necessidade de um terapeuta, caso você sinta que esses episódios estejam causando desconforto, prejudicando as suas relações e a sua saúde.
Voltando aos otimistas, certamente, são pessoas de convívio mais fácil, de quem a maioria de nós gosta de estar perto. Digo a maioria e não todos, porque em alguns casos eles incomodam, pelo simples fato de enxergarem predominantemente o lado bom da vida. Não significa que não vejam o que lhes acontece de negativo, mas que veem ali apenas uma fase, um desafio ou uma possibilidade de crescer. Mas, assim como o estresse e o mau humor são contagiosos, o sorriso e o bom humor também são. Basta nos permitirmos contagiar. E escolher que tipo de “contágio” seremos para os outros.
Em tempos de um mundo rodeado de intolerância e impaciência, marcado pela necessidade de respostas rápidas e perfeccionistas, quem de nós terá tempo para parar, respirar, admirar e aproveitar as pequenas grandes coisas da vida? Provavelmente aqueles que forem autoconscientes o suficiente para identificarem aquilo por que vale a pena despender as suas melhores energias, aqueles confiantes o suficiente para acreditarem em si mesmos e nos outros, e na sua capacidade de construírem novas e melhores possibilidades. Então, sejamos estes, busquemos nos conhecer e nos trabalhar para lidarmos conosco e com os outros de maneira leve, positiva e mais feliz.