Alguns anos atrás, ouvi de uma professora, orientadora de estágio na época da faculdade, uma solicitação inusitada: “Como você faz para não procrastinar? Não quer vir dar uma aula para a gente?”. Ela estava finalizando o doutorado naquele momento e repleta de atividades das mais diversas, típicas de uma jornada quádrupla de mãe, esposa, profissional, estudante. A verdade é que eu nunca tinha parado para pensar nisso, mas realmente já era conhecida por este comportamento, mesmo sem me dar conta. “Você é tão planejada, tão organizada, sempre consegue dar conta das coisas”. Bom, se é sempre não estou tão certa, mas preciso reconhecer essa organização (e capacidade de realização ou não- procrastinação) como um ponto forte.
Procrastinar significa adiar uma tarefa ou trabalho, protelar, delongar, “deixar para amanhã o que se pode fazer hoje”. Eu me dei conta que desde criança sempre gostei de fazer o contrário, eliminar todas as pendências e ficar “livre” e sem preocupações o quanto antes. Quando estava na escola, geralmente estudava antecipadamente para somente precisar revisar as matérias na véspera e poder relaxar em seguida. E assim se repetiu ao longo da faculdade, dos cursos de especialização, de idiomas, do mestrado. Talvez porque eu gostasse de estudar, ou talvez porque eu gostasse de “cortar da minha lista” coisas pendentes. Ainda não sei se o meu funcionamento é à base do reforço negativo ou do reforço positivo, quer dizer, se fico mais feliz por eliminar as pendências ou pela recompensa de ficar livre enquanto estão todos ocupados.
Ainda hoje me pego organizando previamente a minha agenda e lista de trabalhos/projetos em que estou envolvida, de modo a tê-los concluídos com no mínimo uma semana de antecedência. Ouço vários comentários a esse respeito, do tipo: “isso não é normal”, “você tem que ensinar as pessoas a fazerem isso”, “como eu consigo ser assim também?”. Isso quer dizer que não costumo procrastinar? Em parte. Talvez em alguns aspectos eu seja bastante focada e disciplinada realmente, porém em outros, acabo adiando em função de um reforço imediato mais prazeroso (as benditas dietas, por exemplo, que sempre deixo para começar daqui a um mês, após o aniversário de alguém, após o São João).
Estudos recentes associaram a procrastinação a fatores genéticos também. Por isso, é necessário um grande esforço para um procrastinador compulsivo virar o jogo. Eu convivo com alguns, e sei que não são “preguiçosos”, apenas acreditam que funcionam melhor “sob pressão”, que trabalham melhor quando deixam para a última hora, enfim, essas e outras justificativas típicas do procrastinador, que não deixa de sentir ansiedade, culpa, estresse, por estar na véspera de um prazo tentando fazer algo de qualidade. É importante cada um procurar se conhecer e ter em mente como é o seu funcionamento, quais são as coisas que lhe dão realmente prazer e motivação para ir até o fim em uma tarefa, e simplesmente começar, sem pensar muito. Se pensar, é capaz de adiar novamente.
No meu caso, costumo fazer lista de atividades diárias, semanais, mensais e até com frequências maiores, a depender do objetivo, estabelecendo prioridades, prazos, horários. Traz um imenso prazer quando vejo a lista riscadinha, com as tarefas concluídas. Mas isso não quer dizer que não aproveito o processo, que não curto o momento de realizá-las, sobretudo em se tratando de coisas que me dão prazer. Outra coisa que costuma funcionar comigo é me proporcionar pequenas recompensas ao longo do tempo, à medida que concluo uma tarefa. Podem ser recompensas imediatas (olhar a internet por 5 minutos, responder a alguma mensagem no whatsapp, levantar e fazer um lanche etc.), ou uma recompensa que somente possa ser usufruída após a conclusão de um bloco maior de tarefas (sair para algum lugar, ver um filme com pipoca, etc.). Mas o segredo realmente é aproveitar o momento, enquanto se está realizando a tarefa. Assim, você não precisa ficar contando os minutos para acabar. Dificilmente procrastinamos algo de que gostamos de fazer.
Porém, algumas vezes, precisamos estudar assuntos e realizar tarefas entediantes, chatas, desagradáveis mesmo. E nem por isso deixamos de ter prazos para cumpri-las. Aliás, quanto mais adiamos, menos tempo teremos para realizá-las e mais dificil se torna construir algo com qualidade.
Existem algumas técnicas indicadas para gerenciamento do tempo, como a Pomodoro, que podem ajudar. Nessa técnica, a cada 25 minutos de trabalho ininterrupto, faz-se uma pausa de 5 minutos, aumentando-se os intervalos a cada quatro blocos de 25 minutos. Eu acredito ter adaptado a minha própria, às vezes com mais minutos, às vezes com menos, mas o importante é que funciona.
E você, como tem percebido a sua produtividade? Como tem lidado com a procrastinação daquelas tarefas que você precisa entregar e finalizar em um prazo definido? Já experimentou alguma técnica diferente que possa ajudá-lo a se concentrar melhor e a aumentar o seu foco? Qual tal começar? Se você é um procrastinaddor (assumido ou não), e deseja mudar esse comportamento, seguem algumas dicas que talvez possam ser úteis. Experimente e partilhe conosco a sua experiência. Se você não costuma procrastinar e tem alguma outra dica que possa ajudar mais pessoas, fique à vontade para partilhar também!
Para evitar a procrastinação:
Mas fique atento! Nem sempre é possível conseguir se livrar da procrastinação sozinho. Às vezes um apoio profissional pode ser de grande e necessária ajuda nesse processo. Nesse caso, conte comigo! Basta entrar em contato e podemos juntos avaliar a melhor forma de ajudá-lo.
Boa sorte e bom trabalho!