Duas semanas atrás, dei início a um relato baseado numa reflexão a respeito do tema Carreiras. Resolvi dividir a história em duas para não ser muito extensa, mas ainda assim, não consegui deixar de ser um pouco. Você pode ver o início desse relato aqui. Hoje, seguem os desdobramentos da história. Como disse, resolvi partilhar a minha própria experiência não por pura exposição, mas sim no intuito de ajudar a inspirar mais pessoas a refletirem e a procurarem novos caminhos, aqueles caminhos que realmente a levarão à sua felicidade. Então, vamos lá, fiquem com a continuidade da publicação anterior, quando falávamos da dificuldade do meu irmão em relação ao próprio curso de graduação, do seu pensamento em desistir sem saber para onde ir.
Acontece que, depois de uma “reunião de família”, ele acabou optando por dar mais uma chance ao curso, concluiu há alguns anos e hoje é feliz em sua profissão.
Fico me perguntando se eu tivesse desistido da Psicologia porque não gostava de estudar Anatomia, Fisiologia, Estatística e outras coisinhas mais. Afinal, se eu quisesse ter aquelas aulas práticas e sentir aquele cheiro intenso de formol teria escolhido Medicina, certo? Errado. Na verdade, nem sempre para chegar onde queremos passamos somente pelos caminhos floridos. Precisamos ultrapassar o caminho das pedras também. Não adianta viver na ilusão de que não haverá dificuldades após essa primeira grande escolha. Mas a recompensa pode ser encontrada em cada etapa da caminhada também.
Ainda durante a faculdade, enveredei pela Psicologia Organizacional, mesmo indo de encontro a todas as minhas amigas mais próximas, tão focadas na clínica que estavam. Mas não percebiam o quanto eu também defendia a importância do trabalho na vida das pessoas, inclusive as delas. Era como se eu estivesse meio “à parte” da Psicologia. Ainda assim, continuei. Cerca de um ano depois de sair da faculdade, ingressei no Mestrado Europeu em Psicologia do Trabalho, das Organizações e dos Recursos Humanos (as bolsas, super concorridas, foram disputadas por candidatos do mundo inteiro e eu preciso me orgulhar de ter representado o Brasil em quinto lugar), e parti para morar e estudar dois anos fora do país. Tinha cada vez mais certeza de que estava no caminho certo. Mas sempre soube que sou exceção entre a grande maioria. Lá mesmo no Mestrado encontrei colegas que finalizaram o curso e não deram continuidade à carreira na Psicologia. Foram buscar outras formas de atuação e hoje são muito mais felizes e realizados.
Os caminhos após o mestrado me levaram à vida de consultora em treinamento e desenvolvimento de pessoas e, assim, me vi frente a grupos (que sempre me interessaram e acabaram por se tornarem sujeitos do meu trabalho de mestrado, voltado para diversidade e conflitos intragrupais). Esses grupos me encantavam de tal modo, pelos seus processos, dinâmicas e fenômenos, que busquei mais fundamentação para compreendê-los e melhor facilitar o seu desenvolvimento (o Psicodrama). E foi através do Psicodrama que entrei em duas instituições escolares, ainda que pontualmente, como profissional, em diferentes momentos, com diferentes objetivos: ora para dar uma palestra sobre “A Escolha Profissional” a um grupo de adolescentes do Ensino Médio, ora para realizar grupos de encontro com professores de uma escola estadual sobre o seu papel de educador. Neste último grupo, apesar das temáticas serem diversas, muitas vezes surgia a questão da aposentadoria de alguns desses professores (embora ansiosos, ainda despreparados) e a falta de perspectiva dos alunos quanto ao próprio futuro e à profissão que poderiam exercer e os ajudariam a trilhar caminhos diferentes dos de algumas pessoas das suas famílias.
Mas não foi somente aí que o tema “Carreira” entrou na minha vida. Fiz há dois anos a formação em Coaching de Vida, Carreira e Executivo, e tive a oportunidade de atender alguns clientes das diversas áreas (advogados, economistas, engenheiros, administradores, e também colegas psicólogos), com alto nível de escolaridade, sentindo-se perdidos. Alguns, sem saberem como conduzir a própria carreira, outros querendo mudar completamente de área. E, mais uma vez, me vi diante de um grande desafio. Não era somente meu irmão que queria “jogar tudo pro alto” quando se viu diante de uma angústia e dúvida tão grande. Não era somente eu que entrava em crise de curso, ou crise profissional. Muito mais gente passa por isso, ainda mais numa sociedade em que as coisas estão mudando cada vez mais rápido, as exigências pelo sucesso são cada vez maiores, as opções são também inúmeras, e a busca pela realização é cada vez mais forte e presente nos jovens. A efemeridade das coisas atinge fortemente a vida profissional dessa geração de hoje e, por muito menos do que os nossos pais ou avós (que tendiam a começar e a encerrar a carreira numa mesma organização), eles mudam de rumo em busca da própria felicidade.
E percebo que poder apoiar as pessoas nesse processo é um grande motivo para mim. Acredito fielmente que fazer o que se ama cria espaço para inovar, criar, empreender, surpreender, destacar-se, seja em que área de trabalho for. É isso o que eu tenho buscado fazer na condução da minha própria carreira, seja com a abertura da minha empresa de consultoria, ainda iniciante, ainda engatinhando, contando somente comigo para caminhar, mas baseada nos meus valores mais profundos, naquilo que eu sempre acreditei que faria, seja com meu investimento na vida acadêmica.
Para mim, foi fundamental, sentir e perceber que sempre tive o direito de escolher, que, apesar das indecisões, dos questionamentos, das dúvidas, do medo, sempre tive apoio suficiente para fazer o que eu gostasse, para seguir os meus sonhos, para lutar por eles e para fazê-los dar certo. Sei que nem sempre isso é possível. Para muitas pessoas, independente de classe socioeconômica, independente da escola em que estudou, da família em que cresceu, das tradições que quebrou ou seguiu, inúmeros fatores (sociais, econômicos, politicos, psicológicos, familiars, físicos, etc.) tornam-se obstáculo às suas escolhas (ou não, podem ser impulsionadores, a depender do ponto de vista). Alguns deles são facilmente ultrapassados, mas a grande parte deles não.
E é justamente aí que eu entro (e a formação em Orientação Profissional e de Carreira também). Não foi por acaso que decidi realizar uma formação específica em OPC este ano. Conforme prometido ainda no primeiro parágrafo, eis o porquê desta minha escolha: eu sabia que queria fazer isso antes do doutorado (e este já é um vislumbre para os próximos dois anos), que queria me inspirar e me aquecer para novas temáticas dentro dessa área, trocar experiências com pessoas que vivenciam e aspiram objetivos comuns, e poder oferecer novas possibilidades aos meus clientes. Mas, sobretudo, queria reafirmar para mim mesma que, nos mais diversos contextos, seja em atendimento individual, ou em grupos, seja em escolas, ou em faculdades, seja em empresas ou em outras organizações de trabalho, tenho muito a contribuir para que os diferentes momentos de transição e escolha sejam muito mais conscientes e menos angustiantes para muitas dessas pessoas. Gostaria de ser conhecida também por essa atividade, que é um dos meus grandes objetivos de carreira.
Estou certa de que, daqui a cinco ou dez anos, quando olhar para trás e fizer um novo balanço da minha trajetória, terei ainda mais orgulho de tudo o que construí, das pessoas por quem passei, do quanto pude contribuir para o seu crescimento e florescimento. Sei que tudo depende de dedicação, trabalho e tempo, é exatamente o que tenho de mais puro para oferecer. Afinal, quanto mais pessoas eu for capaz de tocar, mais longe levarei o meu lema: iluminar caminhos, fortalecer sonhos e potencializar resultados. Porque a vida é feita de escolhas. Eu tenho buscado fazer as minhas cada vez mais autoconsciente e, se eu puder ajudar mais pessoas a conseguir o mesmo, poderei dizer que me sinto verdadeiramente realizada.