Sempre tive medo de partilhar minhas experiências mais difíceis, por alguns motivos principais:
Ao mesmo tempo, a vida real é única e exclusiva de cada uma e a experiência que partilhamos pode ser o que falta pra outra entender que não está sozinha, que a vida não é feita só de momentos fofos e de imagens bonitas nas redes sociais, que podemos dar as mãos, que a dificuldade de uma não precisa ser da outra, e que assim podemos ir dando voz umas às outras.
Foi quando ouvi de outra mãe, muito próxima e querida, como havia se sentido ao ser comparada por outra pessoa, também muito importante pra ela (embora do sexo masculino), à minha história com a maternidade, como se ela precisasse dar conta de uma série de coisas porque eu tinha conseguido, que o meu gatilho foi novamente acionado.
E toda aquela história de um passado não tão longínquo de me manter calada, fazendo cara de paisagem e dizendo que está tudo bem, mesmo quando está difícil pra caramba, veio à tona novamente.
Mas aí, depois de uns minutos, me dou conta que é justamente esse o ponto. Talvez essa cara de paisagem, fingindo que tá tudo bem (não pra parecer fácil, mas pra não incomodar, pra não parecer estar me lamentando, pra não ser julgada) leve as pessoas a pensarem que vivo todas as dificuldades sorrindo, bem leve, feliz e sem dor. Somente as muito próximas costumavam ver de fato a minha versão real. E a partir daí alguns grupos se formam: as pessoas que se sentem péssimas porque jamais vão conseguir ser assim; as que se sentem admiradas, porque um dia querem ser assim; e as que julgam e comparam todas as outras com base nas aparências de uma. Sim, com base nas aparências.
NENHUMA mãe precisa nem deve ser julgada por nenhuma decisão ou caminho que precise tomar. Alguns deles são vistos como escolhas, ainda que às vezes sejam a única opção que ela tenha (então deixo de ver como escolha). Falo de mim, sobretudo, mas sei que não estou sozinha, muitas de nós já se sentiram sem opção, com um caminho único pela frente. Não sou perfeita, não quero ser, ainda que em momentos de insanidade, até tenha tentado ou me cobrado para tal (quem nunca?).
Já me calei várias vezes por medo de que isso acontecesse, de que outras mulheres fizessem o mesmo que eu faço muitas vezes (diminuir ou depreciar a própria dor, como se a das outras fossem as únicas importantes). Quando escutei de outra mulher e mãe incrível que isso era uma grande armadilha, passei a ficar mais atenta e a tentar dar voz ao que precisava ser dito. Cada uma de nós sabe o custo de cada situação que precisou viver e até onde poderia seguir adiante em cada dificuldade. Ou não, a gente só descobre quando se vê na situação muitas vezes. A gente não sabe o nosso limite até precisar testá-lo. Cada uma vive uma realidade e um contexto, num momento específico do tempo, e isso faz toda diferença na forma como nos posicionamos diante dos nossos filhos, trabalho, família, etc., mesmo que tenhamos mais em comum do que pensemos.
Por isso nunca, em hipótese alguma, uma mãe deve ser comparada ou julgada pelo que pode ou não pode fazer, porque só ela e apenas ela sabe onde seu sapato aperta. Não é porque uma passou por determinada situação que a outra precisa passar. Mesmo que essa mãe saia maltrapilha de tudo isso, o que importa pra quem julga é o que aparece apenas. Essas pessoas não enxergam o que está nos bastidores, o que está além da ponta do iceberg. Com que direito, então, elas dizem que você está errada sobre algo que só você sabe que é o melhor pra você e sua família? Pessoas que não perdem noites de sono, não trocam fraldas, não se dividem em mil atividades e ainda precisam contribuir financeiramente pro sustento da casa.
Você bem sabe onde seu sapato aperta. Então, fique descalça, coloque os pés pra cima, num escalda-pés, receba ou faça em si mesma uma massagem relaxante. Tudo que eu desejo é que você possa viver de uma maneira mais leve por você mesma, de verdade, não de aparências. Porque a sua dor é importante, as suas atitudes só dizem respeito a você e o que os outros pensam, mais uma vez, só diz respeito a eles.