Acredito que há uns dois anos ou mais, no auge do isolamento social que todos vivemos, recebi de um amigo muito querido, também psicólogo, uma das mensagens mais lindas e significativas que poderia receber naquele momento. Ele tinha participado de uma aula que também tinha feito muito sentido pra ele e me fez um resumo com os pontos que ele sentia que poderiam me ajudar também. Talvez ele ainda não saiba (ou descubra ao ler esse texto) o quanto ele fez diferença pra mim naquele momento. Na época eu fiz questão de dizer, mas passado esse tempo, talvez ele não lembre. De todo modo, ficou registrado e vez ou outra eu procuro relembrar.
Trago essa história aqui pra partilhar com vocês, porque faz todo sentido para o trabalho que tenho realizado com outras mulheres. Primeiro porque há momentos em que precisamos de um “olhar externo”, imparcial e ao mesmo tempo interessado em nos apoiar, sobre situações desafiadoras que estamos vivenciando. Segundo porque, independentemente da nossa experiência e da nossa história, todos nós passamos por momentos de reflexão, questionamentos e mudança.
Dois anos atrás, mesmo com bastante tempo de experiência profissional desenvolvendo e orientando outras pessoas em suas caminhadas e carreiras, eu me vi bastante perdida, com um bebê de 10 meses e solitária em muitos aspectos, em meio à toda história da pandemia que já transcorria por mais de seis meses àquela altura. Guardadas as devidas proporções em função do contexto, tenho percebido cada vez mais que aquele sentimento de estar “perdida” não era exclusividade minha daquele momento. Muitas mães recentes têm relatado isso, algumas delas têm me procurado justamente por esse motivo. Mas não é que elas estejam realmente “perdidas”, é que elas querem encontrar um sentido maior naquilo que fazem e COMO fazem, diante das novas demandas e de tantas mudanças que vivenciaram. Já não conseguem enxergar, aceitar e lidar com o mundo como faziam antes da maternidade.
E naquela “conversa” por áudio com o meu amigo, entre um cochilo ou outro do bebê, entendi que nós enquanto humanidade tínhamos levado um grande “tapa” na nossa ilusão de onipotência e controle das coisas. A vida continuava acontecendo, de um jeito ou de outro, e a gente precisava se adaptar para dar respostas adequadas ao que estávamos vivendo naquele momento. Enquanto ficássemos presos no que gostaríamos (naquele mundo do “E se”, ou do “quando”, por exemplo), a gente ficaria paralisado, a vida não fluiria e a gente só sofreria.
Enfim, uma conversa bem filosófica, mas com reflexões fundamentais. Como não pensar a própria maternidade como um chacoalhão na gente? E nessa tal ilusão de controlar as coisas? Confesso que pra mim foi uma grande sacudida mesmo, e continua sendo. Só que a gente vai se ajustando, se adaptando, aprendendo, trocando experiências, pedindo e aceitando ajuda, construindo novos caminhos. “É o chacoalhar da carroça que faz as abóboras se acomodarem… Caminha que a vida te encontra”, ainda ouvi naqueles áudios.
O desconforto e o incômodo é o que podem efetivamente nos levar ao crescimento e ao aprendizado. Quando a gente sente que algo está sem sentido, fora do lugar, talvez seja um convite pra gente fazer algo diferente (ou de outra maneira) realmente. Buscar o que temos de recursos, resgatar a nossa capacidade de responder às situações e de termos fé em nós mesmas, tudo isso faz parte do processo. Quando parecer que está bem difícil e que o caminho está nebuloso demais, aparentemente sem direção ou sem saída, lembre das outras situações difíceis que você já viveu, como passou por elas, o quanto cresceu e aprendeu com elas. Depois que elas passam fica mais fácil enxergar, não é? Então, acredite, no seu momento, você vai encontrar formas de se (re)encontrar. Só que até lá você pode vivenciar esse processo de maneira mais leve e autoconfiante.
No meu caso, mesmo sendo psicóloga e tendo a terapia como parte do meu autocuidado há uns quinze anos (com alguns intervalos), eu levei cerca de mais um ano para me organizar e buscar os apoios necessários para colocar em prática as mudanças que já sabia que queria realizar em mim e na minha atuação profissional. Foi quando busquei uma mentoria que me ajudasse a atravessar algumas pontes e a construir outras. Foi quando me senti acolhida e compreendida genuinamente com todas as questões que eu estava vivendo e nem sabia direito do que se tratavam, muito menos que, após quase dois anos, eu estava ainda começando a sair do puerpério.
E a voz do meu amigo novamente ecoou em mim “a distância julga, a proximidade compreende”. Sim, porque de longe eu apenas parecia uma “mãe guerreira, dando conta de tudo”. Quando na verdade, não existia guerreira, nem dar conta, muito menos de tudo. Tinha uma mãe humana sobrevivendo. Com o apoio próximo da minha mentora (ainda que virtualmente), fui redescobrindo a minha relação com a maternidade, o sentido do que eu queria construir com o meu trabalho, de como eu queria contribuir para a sociedade equilibrando os meus diversos papéis, e aqui estou eu. Direcionei o meu trabalho para o público feminino, porque quero contribuir para cada vez mais mulheres se (re)encontrem consigo mesmas e com seus caminhos profissionais, com acolhimento, empatia e também buscando resultados reais pra vida de cada uma delas.
Então, voltando ao ponto de partida, seja qual for o motivo que esteja te fazendo sentir “perdida”, sem saber que caminho adotar na sua carreira, desejando uma mudança na sua vida profissional, em busca de um trabalho com mais sentido pro seu atual momento de vida, mas sem saber por onde começar, você não precisa seguir sozinha. Porque a gente cresce em rede, e quando vamos juntas, o caminho pode ser mais leve, mais seguro e até mais divertido. Vamos juntas?