Para começar, uma pergunta: você concorda com as afirmativas abaixo?
Essas perguntas fazem parte de uma escala elaborada pela psicóloga Dra. Pauline Rose Clanson (1985), que utilizou pela primeira vez a expressão “fenômeno do impostor”, no final da década de 70. Se você concorda com a maior parte dessas afirmações, sugiro responder ao questionário completo, que você pode encontrar aqui: CIPS – Clance Impostor Phenomenon Scale (caso não se sinta tão à vontade com o inglês, fiz uma tradução livre para meu uso pessoal e posso dar uma ajudinha, é só me enviar um e-mail, ok?).
Segundo a autora do questionário, as pessoas que apresentam as características descritas como do “impostor” têm uma dolorosa consciência das suas fraquezas, tendendo a supervalorizar as realizações a as habilidades dos outros, minimizando a importância das suas próprias, sempre se considerando em desvantagem na comparação.
Por exemplo, se você acha que o seu sucesso é obra de um feliz acaso, e está relacionado muito mais à sua sorte e aos bons relacionamentos do que à sua competência e capacidade de realização, pode estar sofrendo da chamada “Síndrome do Impostor”. Alguns artistas famosos já relataram passar por isso (as atrizes Michelle Pfeiffer, Kate Winslet e Emma Watson; o escritor Neil Gailman; Dr. Margareth Chan, chefe da OMS, dentre outros). Entretanto, uma das características da síndrome do impostor é a dificuldade em admitir isso, pois, se você diz que se sente uma fraude, há sempre a possibilidade em alguém concordar.
E, em alguns casos, quanto mais bem sucedida a pessoa se torna, quanto mais desenvolvido o seu currículo, quanto mais vasta a sua experiência, quanto melhor o seu desempenho, mais a síndrome intensifica, pois as expectativas sobre ela (e dela em relação às comparações com os outros) também aumentam.
Estudos realizados nos Estados Unidos apontam que cerca de 70% dos profissionais bem sucedidos sofrerão com esses “sentimentos de impostor” em algum momento da vida, durante a faculdade, o primeiro emprego, ou na carreira como um todo. Entretanto, para alguns, esses sentimentos não passam, e a síndrome se desenvolve.
Muitas dessas pessoas acabam por serem caracterizadas como “viciadas em trabalho” (tornam-se os chamados workaholics), para compensar o que acreditam que deixam de ter em relação às outras pessoas. E, quanto mais sucesso uma pessoa conquista sendo um workaholic, mais alimenta a crença de que há menos chances de ser descoberta como uma fraude.
Há outras pessoas, entretanto, que se comportam da forma exatamente oposta, se dedicando menos, por preferirem que lhes seja atribuída uma falha por preguiça ou por falta de dedicação do que por incapacidade. Muitas, ainda, por não acreditarem em seu intelecto, acabam por aprimorar suas habilidades sociais e apelarem para o carisma como forma de causar boa impressão e justificar os seus sucessos. A procrastinação, para pessoas que sofrem dessa “síndrome”, pode se tornar um claro exemplo de auto-sabotagem, já que, deixando para a última hora, a chance da qualidade ser prejudicada é maior (e a justificativa para a falha seria atribuída ao “pouco tempo” para realizar a tarefa e não à sua incapacidade de fazê-la).
A segunda pergunta, então, é: o que fazer para superar esse sentimento e romper o ciclo do pensamento que acompanha uma pessoa com a “síndrome do impostor”?
Bom, primeiramente, é preciso encarar os fatos de maneira objetiva, aprender a reconhecer os próprios méritos e atribuir os sucessos à própria capacidade, quando isso for justo. Segundo a Dra. Pauline Clance, que estudou o assunto, trata-se de “suportar o sucesso”, com as responsabilidades que advém com ele. É sobretudo reconhecer que temos capacidades e que podemos sim errar sem que isso seja irreparável.
Buscar apoio psicológico profissional certamente pode ajudar. Quem já passou pela experiência de fazer terapia, pode testemunhar o quanto a Psicologia é capaz de nos proporcionar o autoconhecimento e ampliar a nossa percepção do mundo e, sobretudo, de nós mesmos. Assim, podemos perceber o que são sentimentos e o que são fatos (podemos até nos sentir como impostores, mas isso não significa que realmente somos impostores). Além disso, através de um trabalho pessoal, podemos fortalecer a autoestima, diminuir o medo e a insegurança, praticar o reconhecimento das nossas próprias características e sucessos (já experimentou fazer uma lista dos seus pontos fortes, ou de situações em que foi bem sucedido, por exemplo?), aprender a lidar com os erros e a crescer com eles, elaborar conflitos antigos e crenças disfuncionais que alimentam esses sentimentos em relação a nós mesmos. E, no momento mais adequado, para a procrastinação, as metas e questões relacionadas à carreira, também podem ser buscados a orientação profissional e o coaching de carreira.
Em qualquer contexto e em qualquer área profissional é possível verificar exemplos de pessoas que se sentem dessa forma: pesquisadores que têm a sensação de que não mereciam ter um artigo publicado numa certa revista consagrada, palestrantes que foram convidados para falar de um tema e que sentem como se fosse pouco preparados a respeito, profissionais que são buscados por headhunters (“caça-talentos”) e que sentem como se não fossem dar conta do novo desafio e não merecessem o novo emprego.
A verdade é que sempre será possível atribuir as suas realizações a fatores externos (conhecer as pessoas ideais para os seus projetos, frequentar os lugares certos, conversar sobre um assunto que tenha interessado a uma pessoa chave), mas é fundamental reconhecer que, mesmo nesses casos, a sua competência em manter uma rede de relacionamentos eficaz e ativa, em estudar e dedicar-se a um tema relevante ao público que pretende alcançar, foi essencial para o seu sucesso.
Mire-se no espelho, reconheça as suas conquistas, escreva a sua lista de pontos fortes e sucessos na vida, olhe todos os dias para ela. Acredite, você fez por merecer tudo isso. Nada foi por acaso. Você plantou cada semente, já colheu e ainda está colhendo os frutos daquilo que você mesmo buscou. E se perceber falhas e erros, que tal trabalhar em cima deles? Aprender com eles? Crescer com eles? Só não deixe eles passarem por cima de tudo o que construiu e alcançou, não deixe que eles sejam mais do que você. Afinal, o sucesso é seu. É preciso aprender a conviver com ele. Se parecer muito difícil, existem muitos profissionais competentes e preparados para te apoiar nesse processo. Pense nisso e vamos em frente!